LBB #06 - Medo da morte (+ Perfect Days, Billie Eilish e Big Swiss)
Depois de visitar minha mãe fiquei com algumas coisas na cabeça
No início de maio fui para Manaus depois de um ano e meio sem colocar os pés lá.
Minha única programação era passar o máximo de tempo possível com a minha mãe. Durante o dia trabalhei bastantei, mas à noite minha atenção era dela. Não fizemos nada demais: saímos para jantar, assistimos filme (A Viagem de Chihiro - ela detestou!) e ficamos jogando muita conversa fora. Faz pouco mais de dez anos que saí de lá. Quando me mudei eu era uma jovem de saco cheio dos pais, doida para ter sua independência e passar o máximo de tempo sozinha. Atualmente, conto os dias para ver minha mãe.
Nesta última viagem, ouvi tantas histórias e senti que começamos a nos conhecer mais do que como mãe e filha, mas como amigas. Não fazia idéia de muitas coisas que minha mãe viveu, quando estava ao seu lado e também depois da minha partida. Pessoas que foram importantes para ela e que em algum ponto conheci rapidamente sem fazer a mínima ideia, momentos em que participei que a machucaram ou foram marcantes sem saber que algo relevante estava acontecendo.
Essa mudança não veio de um dia para o outro, mas quando percebi que meus pais estão envelhecendo. Por muitos anos parecia que eles tinham a mesma idade, que o tempo não passava para ela, só para mim, até que um dia fomos almoçar e percebi que estava acompanhando um casal de idosos. Senhores mesmo. Notei a dificuldade na hora de ler o cardápio, de ouvir o atendente e até de pegar o celular e a carteira com as mãos. Me lembro como se fosse ontem da ficha cair e em pânico pensar “meu deus, eles estão ficando velhos”. Foi um baque pra mim perceber isso e estar tão longe. Me preocupei e preocupo com a distância, com a ausência e com a minha falta de suporte presencial. Conforme os anos foram passando, as mudanças continuaram acontecendo só de que forma mais intensa e visível. “Até os 65 anos eu tinha controle de tudo, parecia que nada mudava, mas à partir dos 66, ano após anos eu sinto meu corpo falhando, não o reconheço mais”. Me doeu o coração ouvir isso da minha mãe e pensar que o tempo não é diferente para quem amamos.
Eu não sei lidar muito bem com a morte. Faz muitos anos que perdi alguém próximo a mim e acho que era tão nova e imatura que não conseguia mensurar o real significado e tamanho disso. Nunca tive um bichinho que morreu, inclusive não consigo acreditar que meus gatos um dia vão me deixar. Todo tipo de ruptura para mim é extremamente dolorosa, e eu sou uma pessoa que demora muito tempo para processar despedidas e finais. Gostaria de ser uma pessoa que aceita o fim sem olhar para trás, mas sou o contrário disso. Por isso, não consigo imaginar perder minha mãe ou qualquer pessoa que amo. Sei que em algum momento isso vai chegar, talvez eu vá embora antes de muitos, não sei, mas o que acontecer, tenho pela consciência que irei desabar e não faço ideia se existe uma forma de me preparar para isso.
A maioria dos meus amigos tem a minha idade, somos novos, estamos pensando no futuro, nos diversos planos que temos pela frente, mas às vezes noto que não falamos sobre o depois. Vejo pessoas que amo perdendo pessoas importantes cada vez com mais frequência. Não quero que isso soe de uma forma triste ou deprimente, mas sinto que a morte e a velhice são assuntos que não conversamos muito. Afinal, o que é envelhecer? Por que o assunto da morte e a dor que vem com ela é tanto um tabu? Não faço ideia das respostas, mas a busco e penso sobre cada vez com mais frequência.
📽 Filmes: Como grande namorada, e fã, da Zendaya, não posso deixar de falar de Challengers do Luca Guadagnino. Estava contando os meses, semanas, dias para a estréia nos cinemas brasileiros. Parecia que eu estava indo ver o novo filme do Harry Potter com quinze anos de tão animada que fiquei. Assim como toda internet, saí daquele filme completamente seduzida. Pela história, pela fotografia, pela trilha sonora (obrigada por tudo Trent Reznor!!!), e por todos os personagens. Meu deus, que filme sexy. É o filme mais sensual dos últimos anos e não tem uma mísera cena de sexo nele.
Outro filme que me deixou animadíssima, mas de uma forma muito controlada quando soube da sua existência, foi The Idea of You do Michel Showalter. Essa comédia romântica conta a história da Solène, uma cool mom recém divorciada de 40 anos que leva a filha no Coachella e conhece o astro de uma boyband chamada August Moon. Após se conhecerem por acaso, é óbvio que ambos ficam atraídos um pelo outro e o Hayes vai atrás da Solène para conhecê-la melhor começando um romance bonitinho cheio de “o que a internet vai pensar? será que estou cancelada? por que os fãs são tão doidos?” que é basicamente como vivemos atualmente. Sejamos sinceros, o filme não é bom, mas para quem usou por anos o nome morena misteriosa do harry styles no twitter posso falar com convicção que esse filme foi feito para mim. Não sou mãe (de adolescente, só de gatos), (ainda) não tenho quarenta anos e não sou divorciada, mas me senti representada. Dica: o single da August Moon (boyband do filme) é uma delicinha e você pode ouvir aqui. Cafona e gostoso do jeito que só o One Direction podia ser.
Por último, e na minha opinião, o mais importante, também assisti Perfect Days do Wim Wenders. Poderia falar sobre este filme por horas porque foi tranquilamente o melhor filme que vi este ano. Que delicadeza. Que retrato bonito de alguém que gosta da própria vida e da sua companhia. Me emocionei com as palavras não ditas, com os sentimentos a flor da pele e com a paixão pela vida que o protagonista tinha. Cada dia gosto mais de estar com a minha própria companhia, com os meus pensamentos e da minha rotina por mais banal que seja. Ás vezes tudo que precisamos é apreciar as pequenas coisas, sabendo que a vida não é perfeita, mas ela ainda pode ser bonita nos pequenos detalhes.
📺 Séries: Alguns dias atrás terminei a primeira temporada de Sob Pressão. Uma série médica que se passa em um hospital público do Rio de Janeiro. Os personagens principais são interpretados pela Marjorie Estiano, que interpreta a Camila, e pelo Júlio Andrade que faz o Evandro. A Marjorie é e está incrível. As atuações apesar de meio novelescas, sinto isso das séries da Globoplay como um todo, são ótimas. Sob Pressão é uma mistura de novela médica meio Grey’s Anatomy, principalmente por conta do romance entre os dois protagonistas, com uma dose de informação para o público. Cada episódio aborda um tema (suícidio, violência contra mulher, aborto, abuso infantil) maior e histórias de resoluções curtas. Não acho que a série esteja fazendo algo de inovador, mas passa informações importantíssimas em formas de entretenimento. Estou querendo assistir cada vez mais produções brasileiras e gosto muito da idéia de termos uma série médica para chamarmos de nossa.
🎵 Música: Tivemos diversos lançamentos de álbuns nestes últimos meses (Dua Lipa, Ariana Grande, Taylor Swift…), mas nenhum me pegou como Hit Me Hard and Soft, terceiro álbum de estúdio da Billie Eilish. Estou viciada em Lunch desde que ouvi pela primeira vez. É possível ver uma evolução da Billie nesses três últimos anos. Me encanta artistas que trazem suas histórias para música de uma forma pessoal, mas não tão diretas, sempre me deixando fantasiar com os detalhes.
Admiro muito a Billie como artista, pela sua postura e musicalmente. Fui no Lollapalooza ano passado somente para vê-la ao vivo e fiquei chocada com a presença de palco. Era o festival INTEIRO pulando e cantando alto todas as músicas. Mal posso esperar para ouvir as músicas deste álbum ao vivo.
Minhas preferidas são: Lunch, Chihiro, Birds of a Feather, Wildflores e L’Amour De Ma Vie.
📻 Podcasts: O Modus Operandi é um dos maiores podcasts do Brasil e, na minha opinião, o melhor podcast brasileiro de true crime. Toda quinta-feira de manhã, assim que lançam os episódios, escuto religiosamente. Não é nenhuma surpresa quando digo que é meu podcast preferido. As histórias são muito bem curadas sempre tendo histórias interessantes para uma hora de episódio fugindo do tema comum de serial killers estadunidenses da década de 70-90. Tem casos do século passado, de diversos continentes e muitos casos brasileiros que nunca tinha ouvido falar.
As meninas, Carol Moreira e Mabê Bonafé, estavam em hiatus e voltaram recentemente com vários episódios novos, então vale conferir para quem não escuta já tem um tempinho. Desta nova temporada recomendo O Triângulo Amoroso Mortal e o Pesadelo Americano.
📚Livros: 2024 tem sido um ótimo ano para livros. Não li tantas coisas, mas o que li foi muito bom até agora. Grande parte das minhas leituras estão entre 4 - 5 estrelas. Big Swiss, escrito pela Jen Beagin, é um livro intrigante que conta a história de Greta, uma transcritora de sessões de terapia para o único psicólogo em Hudson, Nova Iorque. Como é uma cidade pequena, Greta sabe os segredos íntimos de todo mundo, mas fica obcecada pela Big Swiss. Esse é o apelido para uma das pacientes porque Greta não sabe quem ela é, mas um dia acabam se encontrando em um parque e começam uma relação de amizade que se desenvolve para um romance. Tudo isso enquanto Greta continua transcrevendo suas sessões de terapia.
Existem vários motivos para amar Big Swiss: a capa do livro, a história que me chamou atenção desde que li a sinópse pela primeira vez, a relação amorosa entre Greta e Big Swiss que não é necessariamente romântica, apesar de existir amor e atração, a forma como processamos traumas e abordagem da terapia, mas principalmente, Big Swiss. Uma personagem intrigante. Fiquei muito feliz quando descobri que existem boatos que será feito um filme ou série sobre, com a Jodie Comer (!!!) interpretando a Big Swiss. Infelizmente, ainda não foi traduzido pra português, mas vocês podem achar a cópia em inglês na Amazon.
🥢Por Aí: Como falei no início do post, fui para Manaus no início desse mês e aproveitei o tempo livre para conhecer novos restaurantes com a minha família. A cena gastronômica da cidade cresceu muito desde quando saí de lá. Dez anos atrás nossas opções consistiam em hamburguerias, temakerias e pizzarias, além da culinária típica. Alguns que visitei e gostei bastante foram o Babbo Cucina, La Vaca Negra e principalmente, o Caxiri Amazônia que é delicioso com vista para o Teatro Amazonas, o nosso maior ponto turístico. Fica a dica caso estejam planejando visitar Manaus.
Em São Paulo, fui no cinema do IMS pela primeira vez assistir a remasterização de A Hora da Estrela, em 4K, dirigido pela Suzana Amaral. Nunca tinha assistido essa adaptação da Clarice e me diverti bastante. Não é um filme ótimo, mas adorei a proposta do IMS de estar remasterizando diversos tipos de filmes brasileiros, além de outras nacionalidades, cobrando preços justíssimos (9 reais a meia!) nos ingressos.
E caso você decida fazer esse passeio, recomendo adicionar ao roteiro a exposição Novo Poder: passabilidade do Maxwell Alexandre, um artista carioca que faz o cruzamento entre moda e arte contemporânea, no Sesc Paulista. Estão expostas mais de 50 telas que tratam da presença da comunidade preta dentro de galerias, museus e centros culturais. Fica exposta até final de Setembro e é de graça.
Tenho pensado em outros formatos para compartilhar algumas coisas com vocês, então não estranhem caso venha outra estrutura de newsletter nas próximas edições. Vou experimentar um pouquinho por aqui. :) Obrigada por tomar um tempinho para ler até o final.
Um beijo e um cheiro,
Tany
Oii Tany,
Me deparei com a sua newsletter e me identifiquei com o que você escreveu sobre o envelhecimento dos seus pais. Antes, não pensava muito sobre isso, mas hoje, morando tão longe dos meus pais, acabo pensando todo dia na falta da convivência com eles. É difícil perder esses momentos. Suas reflexões me lembraram da importância de valorizar o tempo que temos juntos.
Obrigada por compartilhar.
Abraço :)